sábado, 10 de novembro de 2012

CALVINISMO E CAPITALISMO: QUAL É MESMO A SUA RELAÇÃO?

Alderi Souza de Matos A questão de como se relacionam o calvinismo e o capitalismo tem sido objeto de enorme controvérsia, estando longe de produzir um consenso entre os estudiosos. O tema popularizou-se a partir do estudo do sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) intitulado A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, publicado em 1904-1905. Numa tese oposta à de Karl Marx, Weber concluiu que a religião exerce uma profunda influência sobre a vida econômica. Mais especificamente, ele afirmou que a teologia e a ética do calvinismo foram fatores essenciais no de envolvimento do capitalismo do norte da Europa e dos Estados Unidos. Weber partiu da constatação de que em certos países da Europa um número desproporcional de protestantes estavam envolvidos com ocupações ligadas ao capital, à indústria e ao comércio. Além disso, algumas regiões de fé calvinista ou reformada estavam entre aquelas onde mais floresceu o capitalismo. Na sua pesquisa, ele baseou-se principalmente nos puritanos e em grupos influenciados por eles. Ao analisar os dados, Weber concluiu que entre os puritanos surgiu um “espírito capitalista” que fez do lucro e do ganho um dever. Ele argumenta que esse espírito resultou do sentido cristão de vocação dado pelos protestantes ao trabalho e do conceito de predestinação, tido como central na teologia calvinista. Isso gerou o individualismo e um novo tipo de ascetismo “no mundo” caracterizado por uma vida disciplinada, apego ao trabalho e valorização da poupança. Finalmente, a secularização do espírito protestante gerou a mentalidade burguesa e as realidades cruéis do mundo dos negócios. Calvino de fato interessou-se vivamente por questões econômicas e existem elementos na sua teologia que certamente contribuíram para uma nova atitude em relação ao trabalho e aos bens materiais. A sua aceitação da posse de riquezas e da propriedade privada, a sua doutrina da vocação e a sua insistência no trabalho e na frugalidade foram alguns dos fatores que colaboraram para o eventual surgimento do capitalismo. Mesmo um crítico contundente da tese de Weber como André Biéler admite: “Calvino e o calvinismo de origem contribuíram, certamente, para tornar muito mais fáceis, no seio das populações reformadas, o desenvolvimento da vida econômica e o surto do capitalismo nascente” (O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 661). Todavia, esse e outros autores têm ressaltado como a ética e a teologia do reformador divergem radicalmente dos excessos do capitalismo moderno. Por causa das difíceis realidades econômicas e sociais de Genebra, Calvino escreveu amplamente sobre o assunto. Ele condenou a usura e procurou limitar as taxas de juros, insistindo que os empréstimos aos pobres fossem isentos de qualquer encargo. Ele defendeu a justa remuneração dos trabalhadores e combateu a especulação financeira e a manipulação dos preços, principalmente de alimentos. Embora considerasse a prosperidade um sinal da bondade de Deus, ele valorizou a pessoa do pobre, considerando-o um instrumento de Deus para estimular os mais afortunados à prática da generosidade. A tese de que as riquezas são sinais de eleição e a pobreza é sinal de reprovação é uma caricatura da ética calvinista. Para Calvino, a propriedade, o lucro e o trabalho deviam ser utilizados para o bem comum e para o serviço ao próximo. Em conclusão, existe uma relação entre o calvinismo e o capitalismo, mas não necessariamente uma relação de causa e efeito. Provavelmente, mesmo sem o calvinismo teria surgido alguma forma de capitalismo. Se é verdade que a teologia e a ética reformadas se adequavam às novas realidades econômicas e as estimularam, todavia, o tipo de calvinismo que mais contribuiu para fortalecer o capitalismo foi um calvinismo secularizado, que havia perdido de vista os seus princípios básicos. Entre esses princípios está a noção de que Deus é o Senhor de toda a vida, inclusive da atividade econômica, e, portanto, esta atividade deve refletir uma ética baseada na justiça, compaixão e solidariedade social. FONTE: www.mackenzie.br/7076.htm

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Carta de Luciana Genro

(Carta de Luciana Genro ao jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de São Paulo, que entrevistou o prefeito eleito de Macapá e que é do PSOL).
Prezado Fernando Rodrigues, Gostaria de fazer algumas considerações sobre a entrevista que o prefeito eleito Clécio Luís lhe concedeu no programa Poder e Política. Antes de mais nada registro minha avaliação de que o PSOL obteve uma grande vitória política e eleitoral. Nosso partido está ligado ao povo para poder cumprir seu dever de impulsionar as lutas sociais pelas demandas necessárias para melhorar a vida. Num momento em que o capitalismo encontra-se em crise e despejando sobre os trabalhadores, jovens e aposentados o peso desta crise, é decisivo avançar na mesma direção pela qual fundamos o PSOL: organizar um partido por uma nova política, conectada com as lutas anticapitalistas, independente, democrático e socialista. Mas sempre que um partido aumenta seu peso social as pressões sobre seu rumo político aumentam. Até a classe dominante tenta incidir nas definições de sua linha estratégica. Com o crescimento do peso do PSOL, os debates sobre os rumos do partido tendem a ser tornar públicos. Vou aqui fazer um contraponto ao Prefeito Clécio porque considero que suas posições são bem minoritárias no partido. E seria muito ruim que posições minoritárias erradas apareçam como se fossem do PSOL. Não digo que foi esta a intenção do companheiro, mas se a mesma não tem um contraponto pode parecer assim. Sobre a política de alianças do PSOL, o prefeito eleito diz que é “daqueles que defende que o PSOL deve ter uma política de reaproximação com o PC do B, com o próprio PPS, com o PV, com o PT”. Em seguida, em relação ao financiamento das campanhas, Clécio diz que a sua posição é de que “ nós podemos aceitar, sim, o financiamento, na atual conjuntura, de empresas e bancos”. Ao final, perguntado sobre uma avaliação do governo Dilma, Clécio limita-se a dizer que é uma continuidade de Lula, e mesmo diante da insistência do repórter nega-se a fazer um juízo sobre a qualidade do governo. As três questões estão interligadas. É claro que o Prefeito tem todo o direito de propor mudanças no Estatuto e no Programa do PSOL. Mas afirmo, e tenho certeza que falo em nome da maioria da militância do PSOL , estas mudanças não passarão. Não passarão porque nós, que fundamos o PSOL, rompemos com o PT justamente por que este partido abandonou a defesa dos interesses dos trabalhadores. A reforma da previdência, cujo voto contra foi o estopim da nossa expulsão (minha, de Heloísa Helena, Babá e João Fontes), foi o ápice desta mutação do PT, que se transformou em um agente dos interesses do capital. O interesse dos bancos e empreiteiras em financiar o PT não aconteceu por acaso. Deu- se justamente por que o partido, ao ocupar prefeituras e governos estaduais, iniciou este processo de mudança de lado, consolidado ao chegar no governo federal. Esta é a definição necessária, que Clécio não fez na sua entrevista. Não rompemos com o PT para repetir o mesmo caminho. Por isso não aceitaremos alianças indiscriminadas com os partidos do governo Dilma, que são hoje os gerentes dos negócios do capitalismo brasileiro. Também não apresentaremos inimigos de classe como grandes aliados, como fizeram Clécio e o Senador Randolfe ao receber o apoio do líder do DEM em Macapá. Bom exemplo dá o prefeito do PSOL eleito em Itaocara, RJ. Gelsimar Gonzaga anunciou que reduzirá o próprio salário, cortará cargos de confiança e garantirá a participação do povo em seu governo através de Conselhos Populares. A campanha do PSOL no Rio de Janeiro, onde chegamos a 30% dos votos, sem alianças espúrias e sem financiamento de empreiteiras e bancos , mostra que é possível sim uma disputa real pelo poder nas capitais sem mudar de lado. Nossa atividade eleitoral – campanhas e eventuais vitórias - devem servir para que o PSOL demonstre o sentido da sua existência. Este sentido só é dado pela nossa prática de negação da velha política e pela construção de uma alternativa política e eleitoral que responda aos interesses da maioria do povo. Esta é a grande tarefa colocada para o PSOL, ainda mais desafiadora agora que conquistamos duas prefeituras. De minha parte aposto sempre que a influência da juventude combativa e dos trabalhadores em luta tenham peso cada vez maior nas definições estratégicas de nosso partido. Por isso sempre convido a todos estes para que participem dos comitês, núcleos e plenárias do partido, que tomem o PSOL para si, pois a participação ativa da militância é que pode assegurar um partido cada vez mais conectado com a luta anticapitalista. Grata pela atenção, Luciana Genro.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

SONHOS QUE VÃO SENDO CONSTRUÍDOS Aluizio Vidal – Presidente Regional do PSOL
Sempre gostei da idéia de que precisamos agir para que os sonhos se transformem em realidades. Nessa eleição mais uma vez pude perceber que essa é uma proposta absolutamente factível. Sou de uma geração que sonhou em questionar o grande sistema manipulador, mas que com o tempo se transformou nele. Alcançou alguns objetivos, porém se encantou e perdeu as forças do questionamento. Precisou, então, ser alvo do questionamento e sempre é assim mesmo. Agora, não quero ser como “os mesmos” e viver “como nossos pais”. A nova consciência tem de ser resgatada a todo instante e não acontecerá se nos submetermos ao joguinho medíocre que gera o vil metal e nos mete no conforto de nossas casas e nos transforma em insensíveis à dor dos menos oportunizados e que foram empobrecidos por aqueles que criticamos. Ver jovens encantados com o externo, com o visível, com o estético, sem perceber que a beleza é invisível aos olhos e que o ético é superior ao estético é muito triste, mas é desafiador. Então, observar jovens animados em fazer o contrário é encantador. Ergamo-nos povo bom, questionemos, demo-nos as mãos e “insubmetamo-nos” a esse sistema que compra votos com propagandas faraônicas, promessas falaciosas ou abraços e sorrisos hipócritas. Mais do que agradecer, quero parabenizar as mais de 12 mil pessoas que votaram no PSOL através dos nomes de Aluizio Vidal e Prof Marto. Foi uma forma de dizer: não somos objetos de manobra. Mesmo quem votou por deferência pessoal, por fé ou por protesto, parabéns, pois fomos capazes de dizer que amamos mais a simplicidade, a autenticidade e a verdade em relação à opulência, a incongruência e a mentira. Daqui a alguns dias “vou convidar meus irmãos trabalhadores, operários, lavradores, biscateiros e outros mais, e, juntos, vamos, celebrar a confiança, nossa luta, na esperança, de ter terra, pão e paz” (Zé Vicente); convidar estudantes, donas de casa, enfim, quem quiser alimentar esperanças e construir sonhos que sentemos juntos para continuar o processo, não um processo de construção de um nome, mas de continuação de uma idéia. Muito obrigado a todas as pessoas que contribuíram nessa campanha tão bonita e ousaram em pensar diferente votando diferente.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Parabéns e Responsabilidade a Todos Nós

PARABÉNS E RESPONSABILIDADE A TODOS NÓS
(Aluizio Vidal, pastor presbiteriano, professor e psicólogo)
Há dois momentos muito importantes em nossa vida que nos tornam mais sensíveis a quem somos e como vivemos. O primeiro é quando participamos do velório de alguém querido ou querida. Nesse instante percebemos o quanto somos limitados e quanto a vida é efêmera e fugidia. O segundo é o aniversário, pois ao mesmo tempo em que percebemos nossos potenciais e nossa alegria, percebemos também o quanto somos frágeis, pois só nós mesmos vemos a entranha de nosso coração e, então, temos noção do quanto precisa ser mudado.
Hoje Rondônia faz mais um aniversário e precisamos celebrar intensamente todas as vitórias alcançadas, até porque foram à duras penas, sob o esforço de heróis e heroínas que se doaram e continuam se doando ao Estado, gente que aqui nasceu e gente que veio de fora. Esse esforço e heroísmo nos animam a olhar para o futuro e acreditar que Rondônia pode ser cada vez mais um Estado pujante sem ser destruidor, desenvolvido sem ser subalterno do modelo de desenvolvimento neoliberal que tem destruído o mundo, e influente na realidade brasileira de forma inclusiva sem deixar de receber influência de todos os grupos que aqui vivem.
Portanto, parabéns a quem vive, sonha e trabalha para construir esse Estado dos sonhos dourados.
Contudo, a festa não pode entorpecer-nos, fechar os nossos olhos e tirar nossas capacidades críticas, assim como fazem as paixões. Nosso Estado poderia ser muito melhor não fossem os cupins políticos que corroem nossas estruturas, agora de maneira visível, às claras, explícita. Temos sido conhecidos nos outros Estados pela capacidade de eleger gente desonesta, vagabunda e sem o mínimo respeito por quem trabalha e constrói de forma digna aquilo que comemoramos hoje.
Corrupção não pode ser nossa marca, pois não é a nossa marca. Essa é a marca de poucas pessoas que assumiram o poder em suas diversas esferas e que precisam ser defenestradas desses ambientes. Nossa marca é o amor pela terra e pela cultura nortista, a coragem de empreender longe de nossos lugares de origem e a disposição de ser uma nova geração que ama sua terra e quer construir um espaço digno e de igualdade a todos e todas.
Parabéns Rondônia. Somos o que construímos e seremos o que queremos construir, mas isso só será possível se tivermos a coragem de olhar para dentro e encarar não apenas nossos heróis e nossas heroínas para dar-lhes o reconhecimento que merecem, mas também de encarar nossos cânceres de corrupção e de “anti-vida” que nos corroem para tratarmos de forma pesada, ainda que seja ao alto preço de cortarmos a própria carne.
Caminhemos plantando vida de qualidade e celebrando aniversários antes que cheguem mais velórios.