quinta-feira, 21 de julho de 2011

A difícil arte de ser partido no mercado consumista da política brasileira

O pior dos mundos é aquele em que a realidade sufoca os sonhos e torna os indivíduos em entorpecidos e desesperançados. É como se um tsunami de depressão endógena varresse a sociedade e nos fizesse crer que a vida perdeu a cor.

Vivemos politicamente presos à realidade das eleições. Quando acaba uma, os projetos da outra já estão atrasados em relação à necessidade que uma campanha expõe. Com isso, candidatos, partidos, mídia e até a população se alimentam de uma agitação constante, de um jogo de interesses acachapante e de uma subserviência doentia pelo processo que impede de fazermos uma análise mais clara e mais responsável do que seria o melhor para vivência política da sociedade.

Há uma gama de líderes acastelados em seus partidos procurando mais espaços para si mesmos ou para seus aliados, outros desesperados pela exigüidade do tempo em procurar um partido que lhe dê o espaço que acredita merecer, além de outros novos tentando também alguma forma de aparecer sem serem apenas instrumentos para eleição de outros mais conhecidos ou mais poderosos financeiramente.

Com isso, não se discute mais ideologia partidária e valores que caracterizem as propostas (quando têm) de cada um dos partidos. Sem isso, não há política social, há apenas uma cama enorme, preparada para pessoas dispostas a tratarem de seus próprios interesses e projetos, tornando as alianças partidárias só um meio de chegar ao poder e cada um garantir seu quinhão de influência, chantagem e muitas vezes de corrupção.

O que fazer? Primeiro é tomar consciência do processo e tomar uma decisão clara do que se quer. Quem não deseja reproduzir isso que está aí, que se não se conforme e procure partidos com o máximo de coerência e responsabilidade ideológica.

Em segundo lugar, que faça filiação comprometida, com atuação partidária ideológica e, se preciso, com candidatura pautada em propostas claras, objetivas, coerentes e sem os comprometimentos com os sistemas econômicos e políticos que impedem o compromisso com a maioria da sociedade, especialmente com a transformação social que oportuniza os menos favorecidos. É preciso que isso seja feito de maneira livre, sem se submeter às exigências desse mercado eleitoreiro inconseqüente e irresponsável que tem transformado o Brasil num gueto de política clientelista e fisiologista.

Isso é possível? Sim. Aos que crêem que a depressão ideológica pode ser vencida e que fazem de suas idéias uma forma de propor vida de qualidade e justiça e não apenas mais um produto para esse mercado raso da política atual.

Aos vivos os sonhos. Aos mortos a sepultura.